segunda-feira, 27 de abril de 2009

68ª Conversa - Uma Saga...

"Conhecemos muito pouco sobre quem somos. O que sabemos é uma gota no oceano inesgotável que é o conhecimento. Dentro de cada um de nós, existe alguém que por natureza quer ser feliz, ultrapassar obstáculos, saltar barreiras, correr... percorrer o mundo, atravessar vales e montanhas à procura da linha da meta com o desejo de sentir a textura daquela fita que o corpo derruba... Esse alguém muitas vezes não chega a viver..O desejo de erguer os braços e de dizer: "consegui!" é enorme.. Mas às vezes é somente isto...pensamentos, desejos que nos acompanham a vida inteira...

Todos nós criamos os nossos monstros, os nossos medos, os nossos pensamentos mutiladores. E esses ficam muitas vezes durante anos a fio a assombrar o nosso viver. O mal é viver demasiado o passado, mas quando este está mal resolvido é impossível deixá-lo para trás. Chega uma altura em que sentimos necessidade de reencontrar os porões do passado, abrir algumas feridas que nunca tinham cicatrizado e enfrentar os fantasmas que não tinham morrido. Esta é normalmente uma caminhada solitária porque raramente encontramos pessoas dispostas a partilhá-los... Mas quando encontramos um amigo disposto a ouvir, a partilhar, principalmente disposto a ajudar a combater os monstros, então acontecem os momentos indescritíveis.

Como se explica a cumplicidade? Ou a confiança? Fruto do tempo? Não, cada vez mais o mundo revela que não... O tempo cada vez mais remete para a desilusão, punhaladas nas costas, indiferença... Momentos únicos sim, a confiança vinda quase do nada, o carinho, a força e a compreensão ajudam-nos a travar lutas com o passado e a preparar algumas eventuais que poderão surgir no futuro. Aquele rosto nunca antes visto, aquele apoio nunca antes sentido, aquele abraço tão forte, tao apertado, tão real, tão longe e tão perto ao mesmo tempo...

Abrir o coração, partilhar momentos, libertar os fantasmas do passado é dar uma segunda hipotese, é ganhar espaço para que outros sentimentos ocupem o coração. É permitirmo-nos ser livres, vivenciar novas experiências, reconstruir... Ousemos abrir sempre o coração, partilha-lo com alguém, e reiniciar o caminho com o sentimento de liberdade..."

Cátia e Patrícia
7 de Julho de 2007

domingo, 26 de abril de 2009

67ª Conversa - Segurança?

Na Quinta-feira estive com a minha amiga T., uma amiga que conheci ha mais de 10 anos, quando ainda eramos duas adolescentes. Apesar de nos vermos poucas vezes ao ano, passámos dias e noites juntas, passámos por muitos sorrisos e algumas lágrimas... Acabámos por, de alguma forma crescermos juntas.... E tudo o que passámos, e muitas muitas horas ao telefone fizeram com que, durante muitos anos ela fosse a minha melhor amiga. Nunca perdemos o contacto, mas por vezes passam-se alguns meses sem falarmos, isto para não falarmos da quantidade de tempo sem nos vermos...

Mas nos últimos três meses, estivemos duas vezes juntas. Nesses "bocadinhos" temos imenso que contar, novidades, estados de espírito, situações.... E o tempo é sempre pouco. Nesta ultima vez, estavamos já a despedirmo-nos quando ela diz-me que lhe pareço com muita confiança e segurança a falar. Fiquei admirada, e não soubia muito bem o que lhe responder... Voltei a referir as minhas consultas com a Rute, e o esforço que ando a tentar para me fortalecer...

... No dia seguinte liguei à T. Queria falar sobre essa questão da segurança, se ela que me conhecia tão bem, me achava agora com segurança no falar, no estar. Percebi então que ela, que sempre foi como que um exemplo para mim, estava agora com lapsos de segurança... talvez por isso me ache mais segura... Será?

Estarei eu mais segura ou a T. estará mais insegura? Estarei eu de facto mais segura ou finjo melhor que há 10 anos? A minha construção interior estará já visível aos olhos dos outros?

66ª Conversa - O velocidade dos minutos...

Porque é que 60 minutos a trabalhar não têm a mesma velocidade dos minutos com a Rute? A verdade é que aqueles 60 minutos com a Rute passam a uma velocidade louca... Cada vez mais aquele espaço é meu, é nosso e ali a conversa é como pipocas: vamos comendo sem dar conta e quando menos se espera... chegam ao fim. E pensando bem, as idas à Rute são mesmo como ir ao cinema. Há quem vá ao cinema à segunda para aproveitar o preço mais barato, eu estou com a Rute, e apesar de gostar bastante de cinema, estou certa que estes meus 60 minutos, são muito melhor aproveitados.


Não sei se eu e a Rute alguma vez seriamos amigas, não sei se temos algo em comum ou não... Não sei praticamente nada dela, uma ou outra coisa... Mas a verdade é que cada vez mais sinto aquela relação terapeutica: confio nela, ela ouve-me... Se me aconselha? As vezes até acho que não, mas faz-me abrir sobre os mais variados assuntos, faz-me pensar, faz-me desculpar-me a mim mesma, e neste instante é apenas isso que me importa...

... e amanhã é dia de estar com a Rute novamente!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

65ª Conversa - A Rute faz-me bem?

Questionaram-me já mais que uma vez se a Rute me anda a fazer bem. Minha resposta imediata foi que: sim, muito bem! Agora pergunto-me: faz-me bem?

Passo por tempos complicados, complicados em termos familiares, complicados internamente, o que me tem feito andar menos bem.... Mas isso está relacionado com a Rute? Não, não está...

As conversas com a Rute têm-me feito ver coisas em mim que não via, fazem-me pensar, fazem-me construir, fazem-me evoluir... Não, não quero mudar quem sou, os valores que tenho, a forma como penso. Quero apenas ser mais confiante, ser mais segura de mim mesma... E isso faz-se ultrapassando momentos do passado, perdoando atitudes que tiveram para comigo; faz-se aceitando pequenos defeitos que tenho, aceitando quem sou; faz-se não sendo tão exigente comigo nem com os outros... faz-se... de muitas formas, algumas que já sei e outras que ainda não descobri.

Se a Rute faz-me bem? Faz-me sim, faz-me pensar em mim, faz-me pensar no nó que tenho no meu passado, no meu presente e que não quero levar para o futuro... O nó que quero aprender a desactar.

Não posso pensar em construir em 3 meses o que não construi em 26 anos. Para construir vou precisar de desconstruir muitas ideias, muitos maus pensamentos, muita coisa... Preciso de fazer uma terraplanagem para poder construir direito... Descontruir traz sofrimento e leva tempo. Deem-me tempo e verão!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

64ª Conversa - Assim...

Existem momentos assim, em que parece que tudo parou, que tudo dorme, que tudo está noutro lugar, noutro tempo, noutro estado e eu... Aqui... Assim! Existem dias que são assim, e outros menos assim... Hoje é um dia assim, dia que não devia ser... E para que deixe de ser assim, para que amanhã seja outro dia e que espero, não tanto assim, vou dormir.

63ª Conversa - Aprender a viver comigo

Hoje não vou à Rute porque ela tem um congresso, mas hoje tinha bastantes assuntos para falar com ela. É sempre assim, não é?

Desde comecei com as sessões que me quero encontrar, e de facto tenho vindo aos poucos saber lidar com alguns sentimentos, com alguns pensamentos, com algumas situações. Desde que comecei com as sessões já fui libertando, aos poucos, alguns fantasmas que me apresionavam. Não, não vou dizer que estou curada, até porque não sinto que estivesse doente, mas também não vou dizer que estou bem, que já vivo totalmente bem comigo mesma, não...! E acho que é esse o maior caminho que me falta: aprender a viver comigo! Hoje é um dia triste, mas sei que o caminho passará por me conhecer, por aprender a conhecer-me assim como sou. Sei também que o caminho não será facil, que não está a ser fácil... Mas preciso tentar. Desculpem-me.

62ª Conversa - o meu irmão e eu

A Rute diz que não consegue perceber qual a minha relação com o meu irmão, porque quase não falo nele. O meu irmão tem 33 anos e sempre foi o oposto de mim, ainda hoje. Não estudou, eu tirei mestrado; sempre foi inresponsável, eu tinha que ser um poço de responsabilidade; ele fazia os disparates, eu tinha que andar na linha; ele é o extrovertido, eu a seriedade; ele é o protegido dos meus pais, eu tive que descobrir a independencia desde cedo.

Sempre tive ciúmes do meu irmão. O feitio extrovertido e a forte ligação com os meus pais levava-o para o palco principal e a mim restava apenas o lugar de figurante numa familia de 4. Ainda hoje tenho ciúmes, mas verdade é que não trocava a minha vida por a dele.

A minha relação com o meu irmão sempre foi um pouco estranha. Por termos 7 anos de diferença, ele sempre quis desempenhar a função de paizinho, mas nunca o permiti. Eu era confidente dele, mas ele não era o meu (por ser paizinho). Quantas vezes dei-lhe conselhos? Quantas vezes ainda fui eu que tive de ajudá-lo? Quantas vezes é que me telefonou para eu o desenrascar? Mas também tinhamos o outro lado: todas aquelas vezes que deixámos de falar por tempo indeterminado. Tivemos já várias discussões, desentendimentos que nos afastaram por várias semanas ou até meses... Mas depois também tinhamos brincadeiras tipicas de putos: discussões à chapada e ao pontapé, cocegas que acabavam em choro (da minha parte, claro), entre outras, em que tinhamos os nossos pais a tentar fazer-nos parar antes que ele me magoasse. Muitas foram as vezes que terminei com nódoas negras, mas com uma satisfação porque tudo aquilo era também amor. Se amo o meu irmão? Ninguém tenha dúvidas disso.

Há 5 anos ele teve um filho, a coisa mais perfeita que ele alguma vez fará. Uma criança que eu amei desde o primeiro segundo, mas que 1 ano e meio depois, foi para milhares de kms de distância. Sofri muito, pela ausência da criança, pela ausência do meu irmão, pela perda de tudo aquilo que tinhamos. Para me tentar proteger, tentei afastar-me deles, afinal coração que não vê, coração que não sente, não é?

Passou-se quase dois anos e o meu irmão voltou, mas o meu sobrinho não. Custou-me muito, continua a custar-me muito ter o meu sobrinho longe, custa-me muito vê-lo crescer sem o ter por perto, custa-me muito ouvi-lo a falar cada vez mais o inglês e menos o Português, custa-me muito não poder estar perto para quando precisa...

Na quinta-feira passada eu e o meu irmão tivemos uma discussão por causa de umas fotografias do 5º aniversário do meu sobrinho, que teve para mim consequências maiores. Agora foi o meu irmão que me afastou do meu sobrinho. "Existem coisas que são só minhas e dela e mais nada" - referiu. Nem consegui responder, as lágrimas invadiam-me o coração e a cara. Nesse dia nem conseguia falar... Remeti-me ao silêncio, assim como me remeterei perante o meu irmão.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

61ª Conversa - As minhas ausências

Tenho andado ausente. Tenho andado ausente da blogosfera, do Ticho e daqui também, mas não era suposto. Ok, estar ausente do Ticho ainda é menos mau, mas era suposto este ser um blog em que fosse colocando para aqui comentários, pensamentos, sentimentos que me vão acontecendo e não o tenho feito...

...Na próxima semana não vou estar com a Rute, parece que ela tem um Congresso que a vai impedir de estarmos juntas. Estou então comprometida comigo mesma a pensar, em escrever tudo o que me vai acontecendo para que daqui a 2 semanas tenhamos imenso para falar e não sinta, novamente, muito a quebra da ausência.

terça-feira, 7 de abril de 2009

60ª conversa - As nossas conversas

Se eu tivesse alguma dúvida, ontem tive a certeza: estou a conseguir falar tudo sobre tudo com a Rute. Sim é verdade que ainda existem palavras ou afirmações que não me saem sem tentar rodear, mas ela percebe e puxa por mim. Porque me custa? Porque não estou habituada a dize-lo, porque não quero admitir algumas coisas ou simplesmente porque não "gosto" de determinadas palavras.

As conversas com a Rute são cada vez mais conversas nossas, conversas que falo com ela e ficam ali, só ali, naqueles dois pequenos sofás, naquelas quatro paredes do gabinete. A ida ali é uma entrada em mim, uma introspectiva, uma endoscopia (como comicamente li ontem). No início, as nossas conversas era mais semelhantes a monólogos meus em que ela ouvia-me com atenção e ia tentando interpretar. Agora, as conversas são essencialmente conversas, e bastante mais animadas. Ela já me apanhou algumas fugas, e faz com que acabemos por falar delas, naquele dia ou no seguinte, naquele minuto ou 15 minutos depois. Percebe também quando eu não quero falar de todo, mas... 2 ou 3 semanas depois havemos de lá chegar.

Mas de facto o bem que as nossas conversas me fazem não se esgota naqueles 60 minutos de segunda-feira. Vão muito além disso. A segunda-feira à noite, normalmente é um dia de recolha minha, de pensar sobre tudo o que foi dito e depois é ir mais além e arrumar ideias. Arrumar de tal forma que quando (voltar) passar por determinados momentos as coisas já saiam naturalmente.

Esforço? Claro que sim... Existe um esforço, uma luta, uma caminhada... Mas neste momento quero investir em mim.